quarta-feira, 22 de junho de 2016

30 anos de La Mano de Dios: os lances geniais e eternos de Maradona

30 anos de La Mano de Dios

Diego Maradona marcou um gol de mão e um golaço contra a Inglaterra, na Copa do México, em 1986, pela fase quartas de final. Lance histórico e ilegal virou música em homenagem ao ídolo argentino, tratado como um deus pelos torcedores fanáticos. E Maratona relembra em sua página no Facebook a trajetória histórica da Argentina naquela Copa e como foi confeccionada a camisa azul daquele jogo contra os ingleses

Em 22 de junho de 1986, no Estádio Azteca, na Cidade do México, a Argentina venceu a Inglaterra por 2 a 1, com três gols históricos. Cada um com sua peculiaridade. Era um domingo, pela fase quartas de final da Copa, jogo ao meio-dia mexicano, um sol a pino, calor intenso. Terceiro jogo dessa fase, curiosamente o único que terminou sem prorrogação e pênaltis. O Brasil tinha sido eliminado na véspera pela França, nos pênaltis, em Guadalajara, assim como os donos da casa, diante da Alemanha, em Monterrey – a Bélgica eliminaria a Espanha, nos pênaltis, logo depois. Então, os mexicanos passaram a torcer e se encantar por Diego Maradona e seus companheiros. E o argentino não decepcionou. Estava no auge, fez um golaço e o gol La Mano de Dios (A Mão de Deus).

Gol de cabeça e com as "mãos de Deus"

Maradona tinha marcado apenas um gol, contra a Itália, na fase de grupos. E a rivalidade contra a Inglaterra não era apenas em campo ou pela derrota na Copa de 1966, na Inglaterra, com a expulsão de do meia Ratín – uma confusão devido ao idioma que acabou gerando a introdução do cartão vermelho no futebol a partir da Copa de 1970, também no México. Fora dos gramados, Argentina e Inglaterra travaram a sangrenta guerra das Malvinas, quatro anos antes, com mortes dos dois lados.

No vídeo abaixo, o gol de mão de Maradona:


O jogo foi tenso pelo clima político, mas os ingleses também tinham boa equipe, que começou mal, perdendo para Portugal e empatando com Marrocos, mas reagiu contra a Polônia e se classificou, depois passando fácil pelo Paraguai, com três gols de Lineker. Estava em ascensão e empolgado. No começo do segundo tempo, porém, a genialidade de Maradona mudou tudo.

Numa jogada articulada por Maradona, o corte errado de um zagueiro inglês lançou a bola para o alto e para trás, um pouco adiante da marca do pênalti. Maradona subiu com o goleiro veterano Peter Shilton, mais alto e bom. Surpreendeu a todos no estádio e aos que viram pela televisão o nanico Maradona ganhar a fazer o gol. Maradona saiu para comemorar e alguns ingleses foram em cima do árbitro tunisiano Ali Bennaceur, reclamando do toque de mão. Não se conformaram. Maradona disse, quando indagado após a partida, que tinha feito o gol com a cabeça e com as mãos de Deus.

Maradona e Bennaceur, o árbitro daquele jogo


Três minutos depois, a genialidade de Maradona surgiu novamente. Arrancou com a bola do círculo central e foi driblando os zagueiros pela frente e o goleiro Shilton para fazer um golaço, que é considerado por muitos como o mais bonito de todas as Copas. A vantagem era importante, pois a Argentina já tinha eliminado o rival eterno, o vizinho Uruguai, num jogo difícil, por 1 a 0, com gol de Pasculli. A Inglaterra ainda descontou, com Gary Lineker, o sexto dele, o que o deixou como artilheiro da Copa, com 6 gols. Maradona, o brasileiro Careca e o espanhol Butragueño fizeram 5. Depois, a Argentina eliminou a Bélgica nas semifinais, por 2 a 0 (gols de Maradona) e a Alemanha na final: 3 a 2.

Em 2015, na Tunísia, quando gravou um comercial publicitário, Maradona visitou Bennaceur, o árbitro daquele jogo contra a Inglaterra, e o presenteou com uma camisa da Argentina e um quadro.

E, em sua página oficial no Facebook, Maradona está recordando a trajetória dos 30 anos do título da Argentina no México, e, em 21 de junho, postou um relato da véspera daquele jogo, sobre a história da camisa azul daquele confronto, com uma foto. O texto é o transcrito abaixo:
“Certamente já leu ou ouviu mil vezes. Acho que seria impossível que hoje aconteça isto com a seleção. A verdade é que a um dia do jogo contra a Inglaterra, pelas quartas de final, não tínhamos camisas azuis para sair para o campo.
Antes de chegar ao México, a seleção tinha mudado muitas vezes o desenho da indumentária. Usamos vários modelos nas eliminatórias, com gola redonda, gola em V, com as faixas mais largas ou mais estreitas. Inclusive usamos outros modelos para os amistosos antes do mundial.
Nos treinos, no clube América, também usamos todos os dias camisas diferentes. De cor branca, azuis, vermelhas, celestes. E até as meias e os calções curtos eram sempre diferentes.
E aconteceu a mesma coisa nos jogos oficiais, em pleno mundial. Nós tínhamos as camisas azuis e brancas com um tecido Air-Tech, para evitar o calor. Mas as de cor azul eram grossas e pesadas. E quase todos as tínhamos trocado com os uruguaios no jogo anterior. Eu, a minha, eu troquei com o Enzo (Francescoli).
E como o jogo com a Inglaterra ia ser ao meio-dia, com 40 graus de calor, Bilardo queria umas camisas mais leves. E conseguiram algumas no Distrito Federal, justo no dia anterior ao jogo.
Foram feitas algumas provas. A primeira versão tinha um escudo argentino de borracha. Sim, era de borracha, colado à camisa e com números brancos nas costas. Mas finalmente nos decidimos por um escudo feito assim, com quatro pontos. E com uns números prateados de futebol americano nas costas.
Uma loucura, mas era o que tinha...”

Camisa daquele jogo no Estádio Azteca


O texto a seguir foi publicado no Facebook de Maradona, com um vídeo, em 22 de junho de 2016:
“Estas senhoras que trabalhavam no clube América do México, nos ajudaram a costurar os escudos e engomar os números nas costas das camisas que íamos usar no dia seguinte, contra a Inglaterra. Olhem a Burru (Burruchaga) com a camisa da Noruega... E o cinegrafista é o El Negro (Nestor) Clausen!”

Os relatos de Maradona recordam aquele jogo histórico, eternizado por sua genialidade com a bola nos pés. O ex-jogador é tratado como um deus pelos argentinos (existe até a seita maradoniana) e a tal “La Mano de Dios” também virou nome de uma música que homenageia o camisa 10 e capitão que levantou a Copa do Mundo de 1986.

A letra em espanhol e a tradução seguem abaixo:

La Mano de Dios
Rodrigo

En una villa nació, fue deseo de Dios,
crecer y sobrevivir a la humilde expresión.
Enfrentar la adversidad
con afán de ganarse a cada paso la vida.
En un potrero forjó una zurda inmortal
con experiencia sedienta ambición de llegar.
De cebollita soñaba jugar un Mundial
y consagrarse en Primera,
tal vez jugando pudiera a su familia ayudar...

A poco que debutó
"Maradó, Maradó",
la 12 fue quien coreó
"Maradó, Maradó".
Su sueño tenía una estrella
llena de gol y gambetas...
y todo el pueblo cantó:
"Maradó, Maradó",
nació la mano de Dios,
"Maradó, Maradó".
Llenó alegría en el pueblo,
regó de gloria este suelo...

Carga una cruz en los hombros por ser el mejor,
por no venderse jamás al poder enfrentó.
Curiosa debilidad, si Jesús tropezó,
por qué él no habría de hacerlo.
La fama le presentó una blanca mujer
de misterioso sabor y prohibido placer,
que lo hizo adicto al deseo de usarla otra vez
involucrando su vida.
Y es un partido que un día el Diego está por ganar...

A poco que debutó
"Maradó, Maradó",
la 12 fue quien coreó
"Maradó, Maradó".
Su sueño tenía una estrella
llena de gol y gambetas...
y todo el pueblo cantó:
"Maradó, Maradó",
nació la mano de Dios,
"Maradó, Maradó".
Llenó alegría en el pueblo,
regó de gloria este suelo...

Olé, olé, olé, olé, Diego, Diego.

A tradução:
A Mão de Deus

Em uma vila nasceu, foi o desejo de Deus,
crescer e sobreviver de um jeito humilde.
Enfrentar a adversidade
com o desejo de vencer em cada etapa da vida.
Em um pasto formou-se a canhota imortal
Com experiência e sedenta ambição de chegar.
Desde criança sonhava em jogar um Mundial
e consagrar-se na Primeira
Talvez jogando poderia ajudar sua família ...

A pouco que estreou
"Marado, Marado",
a 12 foi quem cantou
"Marado, Marado".
Seu sonho tinha uma estrela
cheia de gol e dribles...
e todo o povo cantou:
"Marado, Marado",
nasceu a mão de Deus,
"Marado, Marado".
Encheu o povo de alegria,
regou de glórias este solo...

Carrega uma cruz nos ombros por ser o melhor,
por nunca vender-se enfrentou o poder.
fraqueza incomum, se Jesus tropeçou,
por que ele não deveria.
A fama lhe apresentou uma mulher branca
de sabor misterioso e prazer proibido,
que o viciou no desejo de usá-la novamente
envolvendo sua vida.
E é uma partida que um dia Diego irá ganhar...

A pouco que estreou
"Marado, Marado",
a 12 foi quem cantou
"Marado, Marado".
Seu sonho tinha uma estrela
cheia de gol e dribles...
e todo o povo cantou:
"Marado, Marado",
nasceu a mão de Deus,
"Marado, Marado".
Encheu o povo de alegria,
regou de glórias este solo...

Ole, ole, ole, ole, Diego, Diego.

Abaixo, o vídeo da música, na voz do cantor Rodrigo:

E o vídeo com Maradona cantando a música em época que o diretor Emir Kusturica gravava documentário sobre o ex-jogador argentino:

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